É possível fazer moda sem poluir e explorar?
Já falamos aqui no blog da Voz como a fast fashion contribui para uma das indústrias mais poluentes do mundo, a produção em massa de roupas à baixo custo, unida a noção imediatista de troca de coleções, virou um problema ambiental. O equivalente a um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo e 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa são liberados por ano, valor que supera a aviação comercial e a indústria naval juntas.
As formas de impacto ao meio ambiente na moda são muitas, desde o microplástico presente nos tecidos, tinturas, até o descarte indevido de roupas feito sem logística reversa. Além disso, a produção acelerada, que dá nome a fast fashion, promove o consumo exagerado o que impacta diretamente na geração de resíduos.
Para garantir essa produção rápida, a indústria acaba apelando para mão de obra barata, o que gera o terceiro problema; trabalho escravo. Desde a colheita do algodão até as costureiras, são muitas as denúncias de trabalho análogo a escravidão em lojas de departamento e até mesmo marcas de luxo.
Por que seguimos produzindo moda?
Ainda que muitos pensem que a moda seja superficial, ela é um fator importante para a composição social e identidade humana, fazendo parte da nossa cultura há séculos!
Mesmo que o termo “moda” tenha surgido na europa do século XV, a prática de vestir-se tem início com o simples objetivo de proteção. Na pré-história vestíamos com pele animal, palha, criávamos acessórios, para garantir que não sofreríamos com o frio, calor, ataques de animais, etc.
Pulando para a idade média na Europa, a roupa já representava um fator social, distinguindo plébe de realeza e clero. É claro que não só na europa que as roupas desempenhavam papel social, isso acontecia pelo mundo todo em sociedades diferentes para representar poder, religião, posses, etc.
E por isso que ainda temos esse comportamento, o que vestimos pode nos identificar socialmente, indicar que pertencemos a determinado grupo, impor respeito ou informalidade. É mais uma forma de comunicação humana.
Então como mantemos a moda e nossa identidade cultural sem prejudicar o meio ambiente?
Existem algumas soluções práticas e baratas para já inserirmos no cotidiano, a primeira delas pode ser a compra de roupas em brechós, assim elas não acabam no lixo e tem sua vida útil aumentada. Outra forma é a troca de roupas entre familiares e amigos, algo como um guarda roupa compartilhado. Hoje em dia existem até mesmo lojas especializadas em aluguel de roupas formais e informais.
Também é possível consumir marcas que tenham cuidados ambientais e sociais em sua linha de produção, podem ser marcas que praticam o upcycling, se utilizando do que seria lixo para produzir, ou ainda uma produção consciente, que se responsabiliza pela origem e descarte do seu produto.
Um exemplo de marca que já nasceu com a consciencia ambiental em seu DNA é a Alma Catarina, criada no auge da pandemia por três mulheres; as irmãs Bel e Carola e sua mãe Niladir. Juntas elas enfrentaram a pandemia sem deixar de lado o propósito, que é “ser a marca feminina com o menor impacto ambiental e maior impacto social do Brasil”.
Bel é oceanógrafa de formação e trabalhou por 20 anos como consultora ambiental,quando se conectou com a moda, já tinha em mente que sua marca não teria os aspectos comuns à fast fashion.
As mulheres são parte fundamental da Alma Catarina, Bel destaca artitas locais, como a ilustradora de sua primeira coleção, e também chama atenção para a função da costureira, que deveria ser reconhecida como arte e valorizada como tal. É com esse pensamento, que a marca respeita todos os profissionais da sua cadeia de produção.
Quando perguntada sobre a possibilidade de se usar a própria moda para conscientização ambiental, Bel comenta a necessidade de marcas menores que estão prontas para se adaptar com mais facilidade às exigências do consumidor, que segundo ela, pode e deve aumentar quando o assunto é impacto ambiental!
Em menos de 2 anos, a Alma Catarina que nasceu como uma marca digital, já tem ocupado espaços físicos colaborativos. E mesmo sendo apenas três, Bel diz contar com muita ajuda de quem acredita no propósito e nos conta que sua marca hoje é uma comunidade.
São histórias assim que nos ensinam que existem caminhos não só para hábitos de consumo, mas também para hábitos produtivos do mercado. A responsabilidade ambiental não parte apenas do consumidor, mas também do produtor. É preciso cobrar das marcas a diminuição dos impactos ambientais de seus produtos, e a partir disso, criarmos uma linha de produção justa para sociedade e meio ambiente.
Texto escrito por Yara Oliveira
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