Fast Fashion: Quando o imediatismo vira desastre
Quando a moda vira moda
A palavra “Moda” significa costume e vem do latim “modus”, surgiu no renascimento europeu em meados do século XV. Na Idade Média as roupas diferenciavam os nobres dos plebeus, haviam leis que proibiam plebeus de usar certos tecidos e cores que pertenciam à nobreza. Em certo momento a burguesia passa a imitar o estilo da elite e após a revolução industrial temos a produção em massa de roupas.
Quando a moda vira lixo
A produção em massa de roupas à baixo custo, unida a noção imediatista de troca de coleções, virou um problema ambiental. O equivalente a um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo e 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa são liberados por ano, valor que supera a aviação comercial e a indústria naval juntas.
Além do custo ambiental de produção, temos também o custo de descarte. Quanto menor a qualidade da peça, mais rápido ela vai para o lixo.
Quando o imediatismo vira desastre
Você pode dizer que o capitalismo cria o imediatismo, ou que o imediatismo cria o capitalismo. Seja como for, perdemos o controle do consumo e da produção. Estamos em um ciclo vicioso de compras desacerbadas, vício alimentado por redes sociais e claro, pelas próprias lojas.
Quando se faz algo muito barato, o mercado tem a necessidade de vender muito e o tempo todo. Como fazer isso? Bem, diminuindo o prazo entre uma coleção e outra!
Muito além das estações do ano, existem lojas que mudam suas coleções em questão de semanas, para gerar o interesse do consumidor, que vê a necessidade de possuir o que há de mais novo no momento.
“O poder cultural das roupas é utilizado para promover o consumo”
Quando você percebe que a conta não fecha
Pratique o seguinte exercício:
Quando entrar numa loja de departamento, faça um cálculo amador de quanto custaria uma peça. Escolha uma camiseta qualquer, observe a costura, a estampa, tecido e colorização. Precifique cada passo, lembre-se de cada pessoa necessária para que esse produto exista, da costureira ao vendedor. Agora veja o valor dessa camiseta, uma coisa é certa; A conta não fecha!
Quando a moda vai para o caminho contrário
Esse é um momento de crise ambiental e a indústria já percebeu, muitos produtos têm substituído o plástico em sua composição, diminuindo químicos e pensando na economia circular. Com a moda é um pouco diferente.
Poliéster, acrílico, elastano, poliamida, nylon, lycra, viscose, acetato, todos esses tecidos têm plástico em sua composição, o que barateia o valor. Porém, parte da indústria ainda não pensou no descarte adequado desse material.
Quando a potência econômica acaba com a economia local
Mas e as doações?
A Europa tem diversos projetos que enviam “doações” para países africanos, asiáticos e do Leste Europeu, o que parece uma solução caridosa, acaba sendo extremamente prejudicial para a economia desses países.
Podemos começar acabando com a hipocrisia, essas doações são lixo disfarçado, ainda que em bom estado, as peças não passam de descarte da geração imediatista do consumo.
As roupas que chegam nesses lugares acabam em mercados que revendem por preços extremamente baixos e isso faz enfraquecer a produção local, logo prejudicando a economia. É como se as doações engessassem os produtores locais.
Quando a moda mata a cultura
Depois de causar um desastre econômico para quem não está na grande indústria, a moda causa um desastre cultural. Ao enfraquecer o comércio e a produção local, perde-se diversas manifestações de comunidades que se dão através das roupas.
É aqui que lembramos, que além de vestir, a moda marca a existência e a personalidade de um povo. Cada comunidade seja ela urbana ou tribal, se expressa através de vestes e acessórios. Quando essas vestes e acessórios locais deixam de ser produzidos por conta da invasão barata de uma cultura eurocêntrica, perdemos a identidade de todo um povo!
Quando a moda vai mudar?
É claro que parte da mudança tem que vir de cima para baixo, mas a pressão popular de consumidores conscientes já tem mudado o mercado.
Muitas lojas de departamento têm trabalhado com algodão orgânico, além de certificar o trabalho de seus colaboradores, cumprindo leis trabalhistas e respeitando a saúde de seus funcionários. Isso tudo é fruto de uma luta antiga, que vem de um movimento dos anos 1990 chamado “Slow Food”, que inspirou o movimento “Slow Fashion”.
O “slow food” visa bater de frente com o fast food e seus alimentos industrializados com baixo valor nutricional, já o “Slow fashion”, questiona a fast fashion e sua necessidade de promover o consumo de roupas de baixa qualidade com alto descarte.
Reutilizar peças descartadas, como no upcylcing, promover a cultura local com produções tradicionais, consumir de marcas responsáveis, valorizar a mão de obra e a história do produto. Isso tudo faz parte do movimento “Slow Fashion”, que pode ser a saída para o problema de uma das indústrias que mais gera lixo no mundo.
Texto escrito por Yara Oliveira
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