Você está pisando, caminhando e vivendo em cima de um rio

A cada dez minutos ou 200 metros de qualquer lugar de São Paulo que você esteja existe um curso d’água – afirma Luiz de Campos, geógrafo e cofundador da ação Rios e Ruas.

Quem habita e frequenta a cidade de São Paulo não imagina a extensão de cursos d’água existentes de baixo de seus extensos asfaltos. A atual megalópole reconhecida principalmente pela quantidade de prédios exuberantes e agitação da vida corporativa, foi um dia marcada por admiráveis vales verdes, natureza de forte presença e um significativo sistema de drenagem fluvial.  Até o começo da década de 1940, os grandes rios de São Paulo eram ocupados de forma ativa para diversas finalidades, como o esporte, lazer e pescaria.

Infelizmente não é essa visão que encontramos hoje. O processo de urbanização atingiu proporções que modificaram totalmente esse cenário em termos de qualidade e saúde das águas, estéticos, simbólicos e, principalmente de experiência do cidadão com os ambientes próximos da natureza.

“A cada dez minutos ou 200 metros de qualquer lugar de São Paulo que você esteja existe um curso d’água

A frase dita por Luiz de Campos, geógrafo e cofundador da ação Rios e Ruas mudou os caminhos de Charles Groisman, empreendedor que acabou se relacionando com o mercado de corrida de rua que, em sua jornada, se conectou com a temática das águas, cruzando seu rumo com a iniciativa Rios e Ruas, quando decidiu, como uma missão de vida, abraçar a causa.

Charles é o fundador do Circuito Rios e Ruas , um desdobramento do Rios e Ruas que o inspirou a missão de levar a informação, conhecimento e consciência sobre os cursos d’água de São Paulo. O Rios e Ruas, iniciativa parceira do Circuito, tem a mesma intenção, através oficinas, expedições e experiências. Groisman, se conectou com o projeto e, a fim de atingir um número relevante de pessoas, proporcionando o bem-estar com o esporte e a arte, navegou no fenômeno nacional da corrida de rua, pelo qual fundamenta todo seu trabalho hoje.

Pessoas correm na rua e desconhecem essa malha hidrográfica que está por baixo, correm sem saber o que ela existe”. – Ressaltou.

Imagem por Luiz de Campos – Projeto Rios e Ruas

 

Todos os grandes rios da capital foram retificados e canalizados. As margens tomaram seus espaços e suas várzeas. Enquanto aos córregos e riachos, atualmente são praticamente todos encobertos pelo asfalto e exprimidos em algum canto da metrópole. Alguns exemplos são o Rio Saracura, que se encontra baixo da 9 de julho e o Itororó, na 23 de maio.

“São cinco mil quilômetros de cursos d’água (800 rios, riachos e córregos), que foram transformados em 17 mil quilômetros de ruas e avenidas.” – Luiz de Campos.

Com o processo de poluição das águas, o distanciamento do cidadão urbano foi cada vez maior e hoje, segundo Charles, a existência dessas águas são principalmente lembradas na época das chuvas, quando chegam as enchentes. Há quem ainda diga que os rios atrapalham a cidade, mas, na verdade, o processo é inverso.

Inundações chegam e as pessoas desconhecem a existência das águas que foram canalizadas logo abaixo de onde elas estão pisando, caminhando, dirigindo e vivendo.” – Comenta Charles.

O conceito do Circuito Rios e Ruas se dá, então, pela reconexão do cidadão urbano com a natureza, com o esporte, através da sensibilização pela arte e conscientização do assunto. Charles conta que, aprendeu com o Rios e Ruas a caminhar pela cidade e ver a sinuosidade dos rios e seus caminhos.

Os grandes e mais importantes rios de São Paulo como o Pinheiros e o Tietê agem de forma controlada atualmente, mas, eles ainda seguem os seus percursos e, portanto, acabam desaguando no mar. Segundo César Pegoraro, educador, Socioambiental da S.O.S Mata Atlântica, o impacto da poluição dos rios nos mares não é tão elevado por resíduos sólidos, e que principal problema são os diluídos, através da poeira, e sujeiras que acabam parando nos rios. Esses, são mais difíceis de serem controlados.

Tanto o César quanto e o Luiz de Campos, do Rios e Ruas, concordam que a responsabilidade é socioambiental e de todos. Também firmam que existem diversas atribuições entre os indivíduos da sociedade, onde cada um tem a sua parcela de compromisso. Enquanto aos órgãos oficiais e de governo, Luiz Campos ressalta que é preciso uma fiscalização forte para garantir que a água de esgoto não chegue aos rios e córregos, pois muito ainda é jogado diretamente nas águas por não ter ligação de tratamento, e ainda salienta que independe de classe social.

De uma forma geral, o geógrafo afirma que a despoluição dos rios tem que ser uma política pública, visto que é situação sistêmica que atinge a toda a cidade e depende de uma série de normas, leis e ações que integrem a cidade como um todo. Destaca que a questão ainda ultrapassa os limites da cidade, já que os rios da cidade de São Paulo recebem poluições de outras regiões.

Por outro lado, existe a responsabilidade do cidadão. “Qualquer coisa que você joga na rua, você está jogando no rio. Uma bituca de cigarro na calçada, através da chuva e do vento, é levada para o bueiro mais próximo, que vai levar para as galerias de águas fluviais e assim, cairá nos rios e riachos”. – Afirma Luiz.

Qualquer cidadão pode fazer parte dessa transformação, através de conservação de nascentes, limpeza de espaços públicos, reciclagem e destinação correta de resíduos. O compartilhamento de informações e conhecimento a respeito da temática também pode ser uma iniciativa positiva para convidar mais pessoas a se conscientizarem.

Paulo VON POSER, artista visual e protagonista do pilar arte do Circuito Rios e Ruas, pensa que olhar para essa reaproximação da questão da água dentro da cidade de São Paulo, é também vislumbrar para um projeto de cidade diferente. E a arte como ação e presença é fundamental, porque ela faz as pessoas a se questionarem e abrem esse convite”.

 Segundo Campos, a despoluição dos rios não é só uma vontade de muitos, como também uma necessidade, quase de caráter de sobrevivência”.

Peixes se reproduzindo no Rio Pinheiros - 09/06/2023

Fotografia por Bianca Paoleschi

Saiba mais sobre a iniciativa Circuito Rios e Ruas e faça parte dessa mudança!

Texto escrito por Bianca Paoleschi  

Fontes: