Dia Mundial da Tartaruga Marinha

Perseverança para as pessoas que trabalham com o meio ambiente, paciência para todos porque essas mudanças não acontecem rapidamente, e urgência – o planeta e a humanidade precisam mudar. Foi o que disse José Henrique, biólogo do Projeto TAMAR.

Dia 16 de junho é o Dia Mundial da Tartaruga Marinha que estão no Planeta há pelo menos 100 milhões de anos e já passaram por muitas transformações no mundo e, continuam conosco, se adaptando na medida do possível. Elas possuem a função de servir alimento para os outros animais, principalmente os peixes, mantendo a produtividade pesqueira e também disso, controlam populações de outros animais.

Archie Carr é o motivo da escolha desta data, em homenagem ao Norte-Americano, nascido em 16 de junho de 1909. Foi um biólogo, professor e zoologista, pioneiro das tartarugas, quando já se preocupada com a saúde e preservação das espécies.

 

José Henrique Becker, Biólogo na Fundação Projeto TAMAR em Ubatuba/SP nos trás algumas informações importantes sobre esses animais e como as atividades humanas tem os tem prejudicado de diversas formas. O plástico, não por coincidência, esteve presente na maioria de suas falas.

Com uma quantidade excessiva de plásticos nos oceanos, é possível dizer que a ingestão desses resíduos é a principal causa de mortes das tartarugas marinhas?

Sem dúvida, o lixo é um grande problema. Mas ele ainda perde para a questão da captura acidental da pesca, que ainda é um grande desafio. O pescador coloca a rede para pegar o pescado e sem querer acaba pegando a tartaruga que, muitas vezes vem a óbito. Essa ainda é uma das principais ameaças numa escala global. Outra ameaça crescente e muito séria é a transformação e a urbanização de áreas de desova, ou seja, a perda de seus habitats, principalmente na etapa de vida da reprodução. Até porque as tartarugas voltam nas mesmas regiões onde nasceram para desovar. Então elas vão continuar insistindo em desovar em lugares que deixaram de ser propícios a isso. É difícil falar o maior problema, porque cada um tem um impacto numa etapa diferente do ciclo de vida. Por exemplo, o lixo não é exatamente um grande problema para as tartarugas adultas. A pesca não é um problema para os filhotes. O desenvolvimento urbano nas praias afetas mais as fêmeas adultas e os filhotes.

“É um assunto que pouca gente fala. Quando a tartaruga come o plástico, muitas vezes ela morre e, depois de algumas semanas, a tartaruga se decompõe. Mas o plástico que ela comeu, não se decompõe e, dentro de alguns dias vai estar novamente solto no ambiente para ser comido de novo por outros bichos. Que também vão morrer por conta do plástico, se decompor, mas o plástico que as matou não. Ou seja, esse plástico que já está no mar vai continuar matando muito animais ao longo de décadas e décadas porque dura centenas de anos para se decompor.  Ele vai fragmentando em pedacinhos pequenos, então vai entrar na cadeia alimentar de outros animais, até virar micro plástico e ser ingerido pelos filtradores. Vai ficar na cadeia por muito tempo, e ser comido ao longo da história por vários animais e impactar suas vidas. É pior do que a gente imagina”.

Pesquisas relatam que tartarugas se atraem pelo cheiro contido nos plásticos, confundindo com alimento. Poderia explicar como isso funciona?  

Não é exatamente que o cheiro atrai. Isso acontece porque provavelmente o plástico fica coberto por um filme de algas, microalgas que cobrem o plástico. Tudo que fica no mar aos poucos vai ficando coberto de organismos. Assim o plástico acaba ficando com o mesmo cheiro do que é recoberto. O animal come achando na verdade que está comendo uma alga, mas está comendo um plástico.

Já foram encontrados pedaços de plástico em tartarugas marinhas filhotes. Como isso prejudica o desenvolvimento e perpetuação das espécies?

Quando comem, o plástico chega no trato digestivo pode obstruir as vias digestivas, o estômago, intestino e a tartaruga para de comer, fica fraca e morre. Ou esse lixo causa feridas e lesões que vão abrir portas para infecções secundarias, que vão ocasionar morte também. A Tartaruga Verde e juvenil é a mais afetada pela questão do lixo. Quando ela come lixo com regularidade, ela tem uma sensação de saciedade, mas na verdade ela não está nutrida. E com a continuidade desse comportamento ela fica debilitada, perde nutrientes, e acaba morrendo por outros problemas. Esses são os principais impactos do lixo. O que temos visto aqui, pelo menos aqui em Ubatuba, que em torno de 30% das tartarugas que são trazidas pra cá, pra reabilitação, tem alguma quantidade de plástico dentro. Não significa que todas elas vão morrer por conta disso, mas elas vão ter problemas de saúde pelo fato de estarem ingerindo plástico.

Como está a questão das espécies extintas? O nível de extinção segue crescendo?

Numa escala mundial, as 5 espécies que a gente tem aqui no Brasil seguem de alguma forma ameaças de extinção. Um pouco mais de um ano atrás, a Tartaruga Verde deixou de fazer parte dessa lista. Isso é muito bom, pois significa que as tartarugas estão aumentando as populações. O que não é muito bom é que os problemas continuam acontecendo, e a tendência a gente não sabe qual vai ser. Em algum momento pode voltar a decair. A gente comemora no momento, mas a gente não pode descansar. Outro ponto são as regiões de desova. As Tartarugas Verdes têm uma vantagem em relação as outras, pois desovam em ilhas oceânicas que tem algum tipo de preservação. As principais áreas de desova dessas tartarugas já são protegidas.

Quais seriam, atualmente, as principais e mais eficientes medidas de Conservação de Tartarugas Marinhas? É possível evitar que elas sejam presas do nosso lixo?

Conversando, trabalhando com os pescadores e trocando conhecimento, conseguimos encontrar soluções de minimizar o problema. No caso da pesca oceânica industrial, nós do Projeto TAMAR trouxemos uma proposta de um anzol circular, e o resultado foi que a produção de peixe continuou a mesma, mas trouxe melhoria para as tartarugas, que não tem tanto risco de mortalidade e podem voltar para o mar. Outro experimento que fizemos em Ubatuba foi a partir de observação em relação aos horários da pesca. Nosso resultado foi que 80% das tartarugas são capturadas de dia, e 80% do pescado capturado a noite. Então a solução, foi colocar a rede de noite e recolher logo cedo. O que vai continuar produzindo pescado, e minimizando a morte das tartarugas, que é um resultado incrível.

Já o plástico, com quem que eu tenho que falar? Com a humanidade inteira que consome, com quem produz, com as grandes empresas que precisam ser responsabilizas pelo lixo que elas produzem. Mas é um trabalho bem mais difícil de fazer.

Na sua opinião, é possível vislumbrar um futuro saudável e seguro para esses animais? O que você acredita que poderia ser feito para melhorar esse cenário?

Acredito que não vamos perder para a extinção. Mas nas próximas décadas, elas ainda vão ter uma questão de saúde muito debilitada por conta da poluição. Não só pelo plástico, mas outros poluentes, por conta das mudanças na questão alimentar, e com a questão do aquecimento global. A temperatura é um fator muito importante para a questão de determinação de sexo dos filhotes, e aquecendo haverá uma mudança na proporção de machos e fêmeas. A longevidade tende a ser afetada. Se a gente fala que tartarugas vivem 100 anos, ou como diz no filme de procurando o Nemo, 150 anos, talvez isso fique cada vez mais raro. Elas vão continuar crescendo, chegar à idade adulta, se reproduzir, mas dificilmente irão chegar nessa idade como acontecia no passado. Esse cenário tende a mudar para os animais nas próximas gerações, mas acredito que irão sair da espécie de ameaça e continuar ocupando os oceanos de todo o planeta.

Texto escrito por Bianca Paoleschi

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