Feliz lixo novo?
Vou começar esse artigo com uma experiência pessoal, passei o ano novo com a minha família em Ilha Comprida, praia que fica no litoral Sul de São. Cheguei por lá dia 28 de dezembro, um pouco antes do pico de visitantes. Tive a oportunidade de conversar com moradores, que se orgulham de ter a praia com a água mais limpa de São Paulo.
Era meio de semana, andando pela praia, pude ver muito lixo levado pelo mar, copos plásticos dos visitantes e latinhas recolhidas por catadores. A cidade é pequena, de difícil acesso e está passando por reformas para receber turistas. Isso não é bem compreendido pelos visitantes, já que a falta de lixeiras, não previniu que se produzisse mais lixo.
Volto aqui para contar da minha participação em algumas limpezas de praia no ano passado, uma em Santos, São Paulo, e outra em Cumbuco, Ceará. Esse tipo de experiência te deixa mais atento ao andar na areia, é possível diferenciar o lixo que vem do mar e o que é recentemente deixado lá. Conforme passaram-se os dias em Ilha Comprida, o lixo deixado na areia só foi aumentando.
Dia 31 foi o pico de movimento, a cidadizinha estava abarrotada de turistas e preparada com palco e um show de fogos de artifício quase 20 minutos. Mas, aparentemente, a organização não contava com o lixo gerado, as poucas lixeiras foram insulficientes e transbordavam copos plásticos, garrafas de vidro e restos de alimentos. Alguns poucos catadores se esforçavam para separar o que podia ser reciclado.
Não só turistas vão para a praia, o lixo também
E nas cidades?
Em 2020 calcula-se que só na Avenida Paulista, pós celebração, foram recolhidas mais de 66 toneladas de lixo nas ruas, e a limpeza contou com mais de 300 litros de água de reuzo. Esse ano, os números podem ser maiores.
Ainda que a cidade de São Paulo já tenha maior estrutura, não era diferente a quantidade de lixo encontrada no chão e lixeiras transbordando. A maior avenida da cidade não pode amanhecer coberta de lixo, a ação da prefeitura na limpeza é rápida, mas não muda o fato de que o lixo que chegou aos bueiros, podem ir para o mar. Nas férias a praia é destino de famílias, amigos e de boa parte do lixo que geramos também, inclusive na cidade.
Vamos ao números
A cidade do Rio de Janeiro recolheu 320 toneladas de resíduos de praias e ruas no primeiro dia do ano, outros grandes pontos turísticos nessa temporada como Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela recolheram 210, 101 e 13 toneladas respectivamente.
Esses são os números divulgados pelas prefeituras, que somam só os resíduos retirados das ruas e praias, infelizmente, não é possível ter acesso ainda ao lixo que escapou esse recolhimento durante os eventos, esses são os mais perigosos.
Quando o descarte incorreto de certo material é feito, isso faz com que ele não tenha o tratamento correto, ou seja, não pode ser reciclado ou ainda direcionado para um lugar com menos impacto ambiental. E isso independe de órgão públicos ou privados, tem mais a ver com comportamento individual.
E agora?
Antes eu acreditava que implementação de lixeiras para recicláveis era uma grande solução, acreditava que a cada metro deveria ter uma. Claro que a solução pode sim passar por ai. Mas aprendi que a maioria dos espaços “lixo zero” fazem o contrário, não colocam lixeiras, assim fazendo que você ande com o resíduo que produziu. Por incrível que pareça, essa ação tem um grande impacto de conscientização, e pouco lixo é gerado durante a visita!
Não estou dizendo que sou contra lixeiras! E sim, apontando para a importância de termos a consciência do lixo que produzimos, pode ser desconfortável andar alguns metros segurando um copinho descartável, então porque não andar com seu copo ou garrafa reutilizável?
Uma forma de se tornar consciente do lixo é uma limpeza de praias, ruas e rios, e volto a minha experiência para confirmar isso. Pode ser um grande evento, ou uma simples caminhada no seu bairro recolhendo o que encontrar do chão para dar o destino correto.
É preciso ver o problema para resolvê-lo e não aprender a conviver com ele!
Texto escrito por Yara Oliveira