Tratado Mundial do Plástico: embalado, mas não entregue

Esse texto foi escrito por Katharina Grisotti, com base em conversas com Natalia Grilli, Maria Eugênia Fernandes e Isabela Ribeiro, que acompanharam o INC-5 como observadoras

 

Créditos: UNEP / Duncan Moore

Na foto Inger Andersen diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) – Créditos: UNEP / Duncan Moore

Entre os dias 25 de novembro e 1º de dezembro de 2024, mais de 170 países se reuniram em Busan, na Coreia do Sul, para a quinta rodada de negociações do tratado global contra a poluição plástica. Segundo o calendário oficial, esta seria a última sessão antes da adoção de um acordo final. No entanto, as negociações terminaram sem um consenso, refletindo os desafios políticos e econômicos em torno da questão.

Impasses e progressos

A ausência de um acordo final pode ser atribuída, em grande parte, à resistência de países com fortes laços com a indústria do petróleo. Essas nações não concordaram com a inclusão de temas fundamentais, como:

  • Químicos de preocupação (substâncias nocivas à saúde humana e ao meio ambiente relacionadas ao plástico);
  • Produção e consumo sustentáveis;
  • Controle sobre a demanda de plásticos.

Apesar disso, houve um sinal positivo: mais de 100 países, representando a maioria, manifestaram apoio a um tratado ambicioso e eficaz para combater a poluição plástica.

Além dos pontos acima mencionados, também não existe consenso em como se daria o mecanismo de financiamento para a implementação do tratado. Existem divergências quanto ao formato e às possíveis fontes de recursos para tal mecanismo. 

 

As negotiations continue for their third day, members of civil society demonstrate outside the venue, highlighting that plastic is so pervasive it is now found in food

Créditos: IISD/ENB – Kiara Worth

Dinâmica das Negociações

As negociações foram organizadas em de duas formas: Grupos de Trabalho divididos em quatro áreas estratégicas que discutiram provisões relacionadas à mecanismos de financiamento, gestão de resíduos plásticos, ciclo de vida do plástico (da produção ao descarte) e regulamentação de químicos de preocupação; e Plenárias, onde as nações apresentaram suas propostas e tentaram alinhar acordos.

Na reta final das negociações, os grupos de trabalho foram restritos apenas a integrantes de delegações, não permitindo a participação de organizações da sociedade civil.

Próximos Passos

As negociações continuarão em 2025, utilizando como base o texto divulgado pelo presidente da sessão, o Embaixador Luis Vayas,  em 1º de dezembro de 2024. Este documento deve orientar os debates futuros e trazer propostas mais concretas para um consenso global. Porém ainda não foi divulgado quando e onde essa próxima sessão de negociação irá ocorrer.

Natalia Grilli, Maria Eugênia Fernandes e Isabela Ribeiro

Da esquerda para a direita: Natalia Grilli, Maria Eugênia Fernandes e Isabela Ribeiro

O Papel do Brasil

O Brasil destacou-se como um dos países mais engajados na negociação. A delegação brasileira foi uma das maiores, com mais de 30 representantes de diferentes áreas, incluindo o Ministério do Meio Ambiente, Itamaraty, Ministério da Saúde, Indústria e pesquisadores especializados.

Essa representatividade demonstra a relevância que o Brasil atribui ao tema. Um dos pontos de destaque na atuação brasileira foi o esforço para garantir a inclusão de um artigo dedicado à saúde humana no texto do tratado (artigo 19 do texto em discussão). Embora controversa e enfrentando resistência de algumas nações, essa proposta reflete a preocupação do país com os impactos da poluição plástica na saúde humana.

Apesar das dificuldades, a quinta rodada de negociações do tratado mundial contra a poluição plástica evidenciou o comprometimento de grande parte da comunidade internacional. O próximo ano será crucial para alinhar interesses e avançar em direção a um tratado que, de fato, enfrente os desafios impostos pela poluição plástica ao meio ambiente e à saúde de todos os seres que habitam o nosso planeta.

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