O que os catadores de recicláveis gostariam que você soubesse

Segundo o IPEA, no Brasil existem cerca de 400 mil catadores de resíduos sólidos ” Somados os membros das famílias, chegam a 1,4 milhão de brasileiros que sobrevivem do lixo. ” (Os que sobrevivem do lixo – IPEA.GOV). Diferente do que está no imaginário popular, os catadores de materiais recicláveis não vivem em extrema pobreza, dados do IPEA apontam que apenas 4,5% das famílias de catadores sobrevivem com menos de R$ 70 per capita mensais, a cifra que estabelece a linha abaixo da pobreza absoluta.

A pesquisa Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos, publicada pelo IPEA em 2010, mostra que a estimativa dos benefícios potenciais da reciclagem para a sociedade brasileira é de R$ 8 bilhões. Mas ainda que movimente bilhões, os catadores continuam invisibilizados.

“…Dificilmente esses/as (catadores) ultrapassam o primeiro elo do circuito econômico que gira em torno da reciclagem” (CENTRAC)

Para presenciar a rotina de alguns catadores da cidade visitamos a Recircular, cooperativa alocada no espaço do projeto Pimp My Carroça, no bairro da Barra Funda, São Paulo capital. Lá tivemos a chance de conversar com Laura Baia, responsável por receber os catadores na cooperativa, pesar a reciclagem e até mesmo repassar o catador para o Pimp, onde ele pode ter outros cuidados mais pessoais.

Aproveitamos a conversa com Laura, que também é catadora, para entender melhor o dia-a-dia dos catadores de São Paulo, os anseios e necessidades que o trabalho árduo nas ruas da cidade trazem para eles.

A primeira reação de Laura no espaço da cooperativa, foi dizer o que é e o que não reciclável, para passar ao público como realmente se deve separar o lixo e assim facilitar a vida de quem trabalha com os resíduos. Aponta para aqueles plásticos que embalam alimentos processados (de fundo branco) que tem “barulho enjoado” como ela explica, e conta que não é reciclável, devendo ser jogado no lixo comum, e pede para que as pessoas que podem escolher, não consumam materiais que não são reaproveitáveis.

“As pessoas não podem ter nojo do lixo que elas mesmas produzem” (Laura Baia)

Laura é muito consciente do valor ambiental que o trabalho dela e de seus colegas têm “Imagina tudo isso aqui no mar”, diz ela apontando para uma sacola enorme com quilos de garrafa pet e garrafas de vidro. Ela gosta de espalhar seu conhecimento, conta à família, amigos e pessoas próximas como o lixo deve ser tratado para melhor aproveitamento.

Outros catadores estavam na cooperativa, eles chegaram com suas carroças equilibrando o material reciclável para fazer a venda, era visível o cansaço deles, muitos não quiseram dar entrevista, mas como viram a oportunidade de dividir um pouco de seu dia, acabaram por nos contar algumas histórias.

Um dos catadores que estava com o olho roxo e exibia uma cicatriz na mão, contou que o olho foi resultado de um pote de vidro com molho de tomate fermentado que praticamente explodiu, assim que ele pegou na sacola de lixo a tampa voou em seu rosto, deixando uma marca roxa e inchada. Além disso, a cicatriz da mão direita foi resultado de um pedaço de faca descartado sem proteção no lixo comum.

“A gente não almoçou ainda (eram 15h), a gente tá esperando aqui pra fazer a venda dos recicláveis, tudo bem pesado e a gente tá com fome. Desculpa não conseguir falar.”

O dia estava quente, soubemos que a carroça vazia dos catadores pode pesar até 100 quilos e eles chegam a recolher  muito mais do que 100 quilos de recicláveis em um dia. O Pimp My Carroça conta com um serralheiro, Tony Hernandez, que desenvolveu uma carroça 75% mais leve, o projeto faz a distribuição dessas corroças, mas infelizmente, não consegue atingir todos os catadores da cidade.

Ainda que conscientes do desamparo de leis trabalhistas, todos os catadores tem o foco em uma problemática: “separem o lixo de forma segura para nos ajudar”. São tantas as histórias de ferimentos, intoxicação, entre outros problemas advindos do lixo, que a preocupação dos catadores entrevistados, era nos explicar como é possível separar e lavar o lixo antes de descartar, assim facilitando o trabalho deles.

Segundo artigo da CENTRAC, os catadores são responsáveis por reintroduzir 90% dos materiais recicláveis na indústria. Ou seja, eles prestam um trabalho socioambiental de extrema importância e ainda assim seguem invisibilizados como cidadãos e trabalhadores, enfrentando problemáticas graves, colocando sua saúde física e mental em risco. Acreditamos que parte da solução seja apenas escutá-los, precisamos ouvir os catadores do nosso bairro, rua e cidade. Só assim entenderemos as dores dessa categoria tão importante para o planeta!

Texto escrito por Yara Oliveira

Fontes:
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2941:catid=28&Itemid=23#:~:text=S%C3%A3o%20400%20mil%20catadores%20de,de%20R%24%20571%2C56.

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