O mercado de moda plus-size e a redução de resíduos na moda
A produção em massa de roupas à baixo custo, unida a noção imediatista de troca de coleções, virou um problema ambiental. O equivalente a um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo e 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa são liberados por ano, valor que supera a aviação comercial e a indústria naval juntas.
As formas de impacto ao meio ambiente na moda são muitas, desde o microplástico presente nos tecidos, tinturas, até o descarte indevido de roupas feito sem logística reversa. Além disso, a produção acelerada, que dá nome a fast fashion, promove o consumo exagerado o que impacta diretamente na geração de resíduos.
Porém, a moda é essêncial quando se fala de cultura, ainda que muitos pensem que a moda seja superficial, ela é um fator importante para a composição social e identidade humana, fazendo parte da nossa cultura há séculos!
Mesmo que o termo “moda” tenha surgido na europa do século XV, a prática de vestir-se tem início com o simples objetivo de proteção. Na pré-história vestíamos com pele animal, palha, criávamos acessórios, para garantir que não sofreríamos com o frio, calor, ataques de animais, etc. Mas a partir da idade média e até hoje, roupas servem como agentes de indicadores culturais, muito importante para a identidade humana.
É por isso, que todos os corpos precisam ser vestidos com igualdade, mas de forma sustentável. Porém a indústria além de muitas vezes ignorar a geração de resíduos, também ignora a diversidade de corpos. A indústria ainda trata a moda plus size de maneira separada do que é tido como padrão, porém os números mostram o aumento progressivo na procura de peças plus size. Entre 2018 e 2019 a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), o mercado Plus Size (roupas a partir do 44) movimentou mais R$ 7 bilhões, com um crescimento avaliado em 10% ao ano. Até 2019, no Brasil, existiam cerca de 300 lojas físicas e 60 online do seguimento.
Ao mesmo passo, o setor de moda sustentável também segue em uma crescente constante no país, segundo relatório da empresa de pesquisa Research And Markets de 2019, é previsto que nesse ano de 2023, esse mercado movimente cerca de 8,2 bilhões de dólares. Sendo assim, porque separar?
Aqui trago duas ponderações, a primeira questionando o tratamento da moda plus size no Brasil, sendo posicionada separadamente em lojas de departamento, sites, etc. E assim, as peças para pessoas gordas, são diferentes das peças consideradas “padrão”. Isso isola pessoas que usam acima do 44 em cantos das lojas e limitam suas escolhas em qualquer loja física ou online.
Uma das “desculpas” da indústria seria que os moldes para modelos maiores, são mais trabalhosos e até mesmo que modelos maiores gastam mais tecido! Mas conversando com costureiras, soube que isso não é bem verdade. O rejeito do tecido de moldes menores, acaba sendo desperdiçado, enquanto moldes maiores usam boa parte do material, assim o gasto em tecido é o mesmo. Quanto aos moldes, costureiras especializadas costumam ampliar moldes sem grandes dificuldades!
Independente do que dizem a indústrias, muitos pequenos empreendedores tem mirado nesse mercado da moda para todos os corpos produzida de forma sustentável. A feira Pop Plus, referência no seguimento, todo ano exibe estandes de diversas marcas com as mais diferentes soluções para o mercado, uma delas conversou com a gente!
A Drapô é uma marca independente nascida na pandemia, com menos de um ano e meio. Ela foi criada por uma médica psiquiatra, Isabela, e um barbeiro, Erick, ambos de Cambuí, Minas Gerais. O nome faz referência a palavra francesa “drapeau”, que significa “bandeira”, e as bandeiras dessa marca é o que a faz diferente!
Ainda que o casal não tenha formação na área da moda, o cuidado com sustentabilidade e moldes diversos fazem parte do surgimento da marca. Uma das resoluções encontradas para que suas roupas vestissem todos os corpos foi fazer o processo contrário ao da indústria, a própria Isabela, uma mulher gorda, serve de molde para suas criações, assim os moldes saem dos tamanhos mais adaptados ao corpo gordo, até medidas para corpos magros.
O mais interessante é ver como o casal pesquisa e busca as melhores alternativas; eles aprenderam a encontrar os materiais com menos impacto ambiental, como algodão orgânico e tecidos sintéticos, que não soltem partículas de microplástico, por exemplo. Outra prática importante da marca, é que todas as suas sobras de tecido, são doadas para uma projeto local de artesãs, assim gerando o menor número de resíduos possível. Além disso, eles contam com mão de obra local, desde sua produção de moldes até as costureiras.
Mesmo contra o senso comum do mercado, marcas como a Drapô cravam sua participação no mercado da moda. É assim, com simplicidade, aprendizado e vontade de fazer diferente, que pequenas marcas ganham espaço no mercado, e atingem um público consciente que busca roupas que os vistam mas não agridam o meio ambiente e tenham respeito com todos que trabalham para a marca acontecer.
Texto escrito por Yara Oliveira