A rocha de plástico encontrada no Brasil!

“Estamos usando tanto plástico que é por isso que seremos lembrados”

Essa frase foi dita pela bióloga microplástica Jeniffer Brandon para a BBC em 2009. Desde então o problema não mudou, segundo o relatório “Global Plastic Outlook – Economic Drivers, Environmental Impacts and Policy Options”, o consumo de plástico mais que dobrou entre os anos 2000 e 2019, produzimos cerca de 353 milhões de toneladas do material nesse período.

O plástico tem chegado cada vez mais longe, segundo a ONU existem partículas do material há 10 km de profundidade nos oceanos. O resultado disso é visto na degradação do meio ambiente. Anualmente cerca de 100 mil animais morrem por ingestão de plástico no mundo conforme dados da ONU, além de conseguir transportar substâncias químicas que não sobreviveriam a água do mar (chamadas hidrofóbicas), não fossem as micropartículas de plástico, assim afetando diversos microorganismos, como diz o Professor Dr. Ítalo Braga de Castro, biólogo mestrado e doutorado em Ciências do Mar, em artigo para a Voz dos Oceanos.

O instituto Fio Cruz estima que o plástico possa levar até 450 anos para se decompor, ou seja, podemos supor que os primeiros plásticos produzidos ainda poderiam estar no nosso ambiente até hoje e ficarão por mais centenas de anos! Mas como esse material tem se incorporado ao meio ambiente?

Em 2014 tivemos o primeiro documento que se referia a uma formação rochosa plástica, publicado pela Geological Society of America. Essa “pedra” foi encontrada em Kamilo Beach, no Havaí. O documento cita o ocorrido como uma marca informal do antropoceno, uma época geológica centrada nas consequências da ação humana.

Parcel das tartarugas – Fernanda Avelar

Do Havaí vamos direto para a Ilha da Trindade, localizada a cerca de 1140 km de Vitória no Espírito Santo. Foi lá que a geóloga brasileira Fernanda Avelar Santos, pesquisadora do Laboratório de Estudos Costeiros da UFPR, enquanto fazia seu trabalho com mapeamento de riscos geológicos, se deparou por acaso com detritos plásticos com aparência de rocha! Esse foi o primeiro achado do tipo no Brasil.

Em entrevista para a Voz, a Dra. Fernanda Avelar conta como essa “pedra” se incorporou ao sistema natural do local. Essa rocha se formou a partir da queima de rejeitos de redes de pesca que se misturaram com os sedimentos naturais da ilha. Segundo a pesquisadora, as redes de pesca representam uma poluição comum que chegam até as praias pelas correntes oceânicas.  O mais chocante é que a Ilha da Trindade é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e Monumento Natural (MONA) do Brasil e abriga uma biodiversidade ímpar, que inclui a área de maior desova de tartaruga-verde do Brasil, aves marinhas e espécies endêmicas.

Foto Fernanda Avelar Santos – Afloramento Parcel das Tartarugas

Ainda que em uma nova forma, o problema do plástico nesse caso é o mesmo, pois tais rochas de plástico são fragmentadas em micropartículas, pelos agentes naturais, que representam um problema para o meio ambiente marinho. Mas ainda não temos muitos estudos na área da biologia para entender como essa formação rochosa plástica pode afetar diretamente os organismos vivos que interagem com ela.

A pesquisadora ainda chama a atenção ao fato da poluição plástica estar tão presente e persistente no oceano, que começou a ser documentado de forma inédita pela geologia, uma área que estuda a composição, a estrutura e a evolução do globo terrestre, bem como os processos que ocorrem no seu interior e superfície (UFC – Sobre Geologia). A grande reflexão desta descoberta, segundo  Fernanda Avelar, é que estes tipos emergente de detritos plásticos são um marco importante para a geologia e são evidências da poluição global e seu impacto no ambiente, que representam um desafio para a conservação e gestão dos recursos naturais.

 

Texto escrito por Yara Oliveira